Fugir da dor – parece que todo mundo quer isso. Uns enchem a cara, se afogam naquilo que apenas por alguns momentos apaga da memória as cenas de um coração partido. Outros fogem procurando esquecer a vida se entupindo de qualquer coisa que os façam dormir e ainda tem aqueles que fogem se escondendo em outro alguém. Pior ainda, tem gente que faz tudo isso junto. Mas não estou aqui para julgar, cada um cria seus subterfúgios e tenta sobreviver. Não é fácil lidar com a dor, tem que ser muito “gente grande” para se virar com ela, tem que saber que ela vai ficar um tempo, é uma visitante irritante que vem se hospedar dentro da gente e se não dermos atenção ela finge que foi embora, se faz de morta, mas a gente sabe que ela está por ali em algum cômodo, aborrecida e quieta, tramando sua vingança que a qualquer momento pode nos atacar de surpresa.
A dor é uma criança mimada, ela nos convida a chorar com ela, a ter crises neuróticas, a passar noites em claro curtindo uma fossa. Ela quer nos ver soluçando, afundando no infortúnio, sem querer sair de casa, sem vontade de comer, de ver gente, de viver, achando que é o fim! E o mais interessante é que se a gente se entrega a ela e como bons anfitriões nos colocamos ao seu dispor, ela satisfeita, pega suas malas e vai embora procurar um outro para doer.
A vida me ensinou o que é mais sábio. Não adianta tentar escapar… esquecer um amor com outro amor, não, não acredito porque você não consegue amar outra pessoa antes de esquecer a anterior. Não dá para ler um livro novo se a história do anterior ainda está me aguçando a mente, não vou ler direito, vou ficar pensando no que poderia ser, no que devia ter sido, vou ficar com vontade de rasgar o livro novo só de raiva por não ter um enredo que me faça esquecer do outro. Não, um amor novo, não cura um amor velho. Para nascer um novo amor o antigo precisa de morte declarada, ter velório, choro, vela e ser enterrado à sete palmos! Você ainda tem que passar um bom tempo se descabelando, sofrendo – Luto!
É muita sacanagem esperar que alguém seja responsável por curar uma dor que foi você mesmo que procurou. A outra pessoa não tem nada a ver com isso. Seu coração está em pedaços, sangrando e você quer que ela te anestesie e dê os pontos? Que falta total de vergonha na cara. Imagina essa pessoa que por te amar até se propõe a cuidar das suas feridas, cata seus pedaços, costura e ainda assim continua sangrando… Sabe porquê? Porque você não se curou, porque muitas vezes vai doer e a pessoa que tentou te curar vai sofrer porque ela vai se sentir como aquele livro novo que o enredo não encanta…
Quem cura o coração não é outro alguém, é você e o tempo! O mínimo que poderia fazer era aparecer para uma outra pessoa de coração inteiro, limpo e totalmente aberto, mas para isso deixe de fugir da dor e fuja dos subterfúgios!
” Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.”
Carlos Drumond de Andrade
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